“Os Cavaleiros do Zodíaco” (CdZ) não fala de
heróis perfeitos, mas de heróis de guerra, que são aqueles que lutam para
defender princípios e valores fundamentais que estão sob ameaça. E um herói de
guerra não leva flores para o campo de batalha. Há diversos tipos deles, mas
sempre existe o que é menos misericordioso, frio e determinado. Eles são necessários.
Shuns são importantes (sua misericórdia será abordada futuramente), mas um exército
de Shuns seria facilmente derrotado. Ikki é esse soldado que carrega em si
valores fundamentais, que luta e está disposto a morrer por eles, mas que é
mais desprendido de amarras que poderiam impedir ou dificultar as ações necessárias
para que o bem protegido o seja de fato. Mesmo assim, o anti-herói dos mocinhos
também tem uma jornada rica e virtuosa.
Ikki é um homem perturbado por rancor e
consumido por ódio. Durante sua luta contra o irmão e os antigos amigos, o
Cavaleiro de Fênix, assombrado pelos traumas do passado, percebe o quão horrível
se tornou. Porém, mesmo perdoado pelos demais, especialmente por seu irmão, não
consegue se perdoar.
Quem nunca se sentiu assim? Às vezes, fazemos
coisas horríveis e, mesmo diante do perdão daqueles de fato ofendidos, nós
mesmos não conseguimos nos eximir da culpa que nos esmaga. O passado se ergue
como a mais sombria nuvem sobre nossas cabeças, e não há luz de misericórdia
capaz de atravessá-la. Contudo, o amor verdadeiro o faz, e Ikki, quando tocado
pela lágrima de Shun, desnuda-se de sua autocondenação e entrega-se,
respondendo “eu te amo” ao irmão.
A lágrima do Cavaleiro de Andrômeda o resgata
e o faz lembrar do primeiro amor, daquele de antes do inferno e da separação, de
antes da busca pelo ódio como fonte de poder, do amor familiar, fraternal e
sacrificial que existia entre ele e o irmão. O passo inicial para que isso
fosse possível, contudo, esteve no arrependimento. Ou seja, para que Ikki
pudesse abrir o seu coração para a misericórdia de seu irmão, precisou se
arrepender. O perdão sempre esteve ali, diante dele, mas, se não houvesse verdadeiro
arrependimento e humildade, só restaria a culpa que corrói o espírito.
Movido por isso, Ikki, em seu confronto
contra Bado de Arkor, da estrela Zeta, já na fase de Asgard, ensina: “Sempre existiram brigas entre pais, filhos e
irmãos. Porém, no começo, não acontecem brigas. No princípio, as crianças amam
os pais, e os irmãos confiam uns nos outros quando são novos. Mas, de repente,
a fortuna chega até eles, começam a se odiar e a se matar, mas jamais se
esquecem da época em que confiavam uns nos outros!”
A fortuna a que se refere Fênix são as questões
menos relevantes na vida, as ilusões e picuinhas em que concentramos uma atenção
equivocada e supervalorizada. Irmãos são irmãos e devem se amar. Sim, existem
as pessoas más, os irmãos e irmãs malvados, genuinamente maus e de caráter diabólico.
Isso é um fato, mas não a regra. O normal é os irmãos serem pessoas que tendem à
bondade e que se gostam, se amam e se respeitam, e igualmente comum é brigarem
e se afastarem por bobagens. O caminho de volta para a reconciliação, porém,
segue aberto, livre e desimpedido, mas as neblinas que o ocultam de nossos
olhos só serão dissipadas se alimentarmos a lembrança do primeiro amor, e o
primeiro passo, para isso, é a humildade e o arrependimento.
Essa é a razão para que Ikki seja o
personagem que veste a armadura de Fênix, pois, a partir do sincero arrependimento
movido pela humildade, somos perdoados por quem realmente nos ama e as coisas
erradas ficam para trás, enterradas no passado. Tornamo-nos um novo ser, nosso
antigo “eu” é incinerado pelas chamas da remição e, então, como a ave mitológica,
das cinzas ressurgimos, mais fortes e melhores do que antes, voando com as asas
da redenção.
Essa é a lição de Ikki de Fênix, o humilde,
arrependido e redimido.
E então? Alguma outra virtude promovida pelo irmão
de Shun? Comentem!
*Imagem: http://www.cdz.com.br/forum/topic/11569-ikki-de-f%C3%AAnix-x-camus-de-aqu%C3%A1rio/
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