Tolkien era filólogo e se
havia algo que ele valorizava era o significado e o poder das palavras. Em seu
ensaio “Sobre Estórias de Fadas”, presente no livro “Árvore e Folha”, em que fala,
entre tantos aspectos, sobre a construção de mitologias, defende que a “Linguagem
não pode (...) ser ignorada” e que a “mente encarnada, a língua e a estória são,
no nosso mundo, coevas”. Para ele, as mitologias somente conseguiram ser
elaboradas e dotadas de determinados significados a partir de sua materialização
em palavras específicas, sem as quais os mitos e grandes lições de sabedoria que as acompanham não teriam se perpetuado no tempo e ensinado com tanta profundidade
a humanidade.
Hoje é o dia da famosa “Black
Friday”. Porém, há muitos que têm demonizado a expressão, mais uma que faria
uso “indevido” da palavra “black” (preto), ignorando que essa é a cor que, nos
EUA, tradicionalmente indica saldo positivo e êxito nos negócios, o que, no
Brasil, corresponderia ao “azul”.
A verdade é que a expressão “black”,
assim como a palavra “negro”, no Brasil, tem sido politicamente monopolizada
por movimentos que dizem defender vítimas de discriminação racial. Assim,
começou a ser excluída do vocabulário popular, como se seu significado fosse
apenas um, independentemente do contexto em que usada. Foi assim que, nas novas
traduções de Star Wars, em vez do tradicional “Lado Negro da Força”, adaptou-se
para “Lado Sombrio”. Apesar de, em princípio, não fazer diferença para o
entendimento do espectador, representa uma repressão ao seu uso espontâneo,
mesmo que inexista, na obra escrita por George Lucas, qualquer intenção pejorativa de cunho racial. Trata-se de um exercício discreto,
mas eficiente, que visa, ao final, à sensação de autocensura quando da mera
pronúncia da palavra “negro”, e o mesmo ocorre com a famosa “Black Friday”.
Infelizmente, isso é cada
vez mais comum e com uma variedade enorme de palavras, cujo uso acaba
empobrecido, limitando-o apenas a situações específicas e em favor de
determinada ideologia. Ao cabo, nossa capacidade de expressar opiniões,
refletir e até mesmo imaginar (afinal, toda imaginação precisa ser acompanhada
de uma descrição para romper os limites de nossas mentes) é atacada, enclausurada
e, finalmente, escravizada.
Irônico, não?
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