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A AGLOMERAÇÃO DE MARADONA

 


A despedida de Maradona teve a participação de dezenas de milhares de pessoas, talvez mais. O detalhe: o velório se deu na Casa Rosada, sede do governo argentino, o mesmo que vem adotando uma das mais rigorosas (e fracassadas) políticas de isolamento social do planeta para, supostamente, conter o contágio do COVID-19.

Maradona era um ídolo que, para os “hermanos”, ia além do futebol. Diante disso, eximindo-se moralmente de qualquer responsabilidade, afinal, tratava-se do funeral do talvez maior ícone argentino da história, seu presidente permitiu que a Casa Rosada sediasse a despedida do craque, ciente da aglomeração que promoveria. As imagens falam por si: milhares de pessoas, lado a lado, amontoadas, quase nenhuma utilizando máscaras. Todos abraçados, chorando, um pranto coletivo, e tudo sob a permissão do presidente argentino.

Pois não me surpreende. Pessoas como Alberto Fernandez são da tribo dofique em casa, desde que eu diga se você pode (ou deve) sair”. Se a aglomeração é por uma causa favorável às bandeiras (ou à popularidade) dos fetichistas do isolamento, então está liberada. A permissão (na verdade, uma promoção, afinal, o velório foi na própria Casa Rosada) para que as pessoas se aglomerassem para se despedirem de Maradona se revela, pela lógica supostamente científica dos isolacionistas, um ato de grande insensatez, talvez até criminoso. Ora, aquele que defende restrições individuais de forma ferrenha e, em tese, técnica e, mesmo assim, lava as mãos diante de um clamor nacional, não age com, no mínimo, dolo eventual, ou seja, vai adiante em tal medida, mesmo que assumidamente ciente do que, segundo ele próprio, está objetivamente em risco (saúde pública)?

É evidente que sim. Agora, quem se importa? Era o velório do Maradona, ora bolas, assim como foram os protestos por causas sociais no Brasil e as campanhas e as próprias eleições municipais em nosso país. Não são as temerárias reuniões familiares que inevitavelmente acontecerão no terrível natal. Essas são, sim, um risco para a saúde pública! Para a sua segurança, fique em casa bem sozinho, como o garotinho interpretado por Macaulay Culkin em “Esqueceram de Mim”. Um bom filme para a sua solitária ceia, aliás.

Talvez os detentores da verdade e da virtude convoquem você para cantar “Noite Feliz” em uma grande live. Não duvidaria disso: para eles, quanto mais se estender a noite do isolamento, mais felizes ficarão seus corações.


*Imagem: https://desporto.sapo.pt/futebol/futebol-internacional/artigos/fotos-muita-emocao-e-alguma-confusao-no-funeral-de-maradona

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