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UM POEMA PARA SEMPRE

"O Último Tamoio" (Rodolfo Amoedo, 1883). 
Fonte da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%9Altimo_Tamoio#/media/Ficheiro:Ultimo_tamoio_1883.jpg

Meu avô Roberto Jeolás Machado Guimarães transmitiu um legado de sabedoria. Nele está incluída a tradicional "Canção do Tamoio", de Gonçalves Dias. Tradicionalmente, ele a declamava para seus filhos, entre eles o meu pai, nos seus momentos de tristeza e frustração. 

Deus inspirou Dias, não tenho dúvidas. Seu poema, além de lindo, é um hino de força de vontade, resiliência e coragem que merece ser pregado nas paredes de todas as casas e transmitido de pai para filho. Não sei se meu avô ouviu essas palavras, pela primeira vez, da boca de seu pai ou mãe. Não importa. Essa cultura familiar, iniciada ou mantida por ele, é sábia e terna. Meu pai a passou para mim e meu irmão e nós a transmitiremos aos nossos filhos. Não se trata de mero tradicionalismo, mas de um vínculo com o passado firmado, como dito, em sabedoria. 

Isso é tradição verdadeira, a tradição firmada em costumes que fazem sentido e nos edificam como seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, aquele que, humildemente, se fez homem e, voluntariamente, trilhou o caminho do sofrimento para nos salvar e superar a morte. Superemos a morte a partir da fé em Cristo, mas também com a certeza de que ela é parte da vida e que o que importa é como e em nome do que ela é vivida, afinal, "viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar".

Abaixo, a íntegra de "Canção do Tamoio", de Gonçalves Dias.

I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida: Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia, Condor ou tapir.

III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII
E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

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