Hoje se completa uma semana do falecimento de Maradona e apresento, aqui, minha última crônica dessa série inspirada por ele.
Entre tantas homenagens feitas logo após sua morte, o Napoli, clube de futebol italiano pelo qual o craque viveu seus mais espetaculares momentos, anunciou que trocaria o nome de seu estádio, San Paolo, para Diego Armando Maradona. Uma justa e merecida homenagem. Só tem um problema: o homenageado morreu.
É possível encontrar na internet a compilação dos gols do eterno camisa dez argentino pela equipe: um acervo de pinturas, uma sequência de emoção e êxtase a cada tento marcado, a cada arrancada, a cada drible. Maradona era energia pura em seu auge, uma energia acompanhada de técnica e carisma estupendos. Foi “El Pibe” quem alavancou o Napoli a outro nível, vencendo campeonatos e liderando o time em grandes campanhas. O clube de futebol do sul da Itália deve muito a Maradona. O astro, porém, não verá o maior e mais belo ato de gratidão que a instituição terá por ele. Sim, o ídolo já tem um estádio com seu nome (o do Argentinos Juniors, seu primeiro clube) e poucos receberam tantas homenagens como ele, mas o caso do Napoli, cuja camisa o craque vestiu na sua fase mais esplêndida, nos provoca a refletir.
Homenagens póstumas sempre são pertinentes, é claro. Vai o falecido, ficam os queridos que apreciam a gratidão daqueles que prestam tal tributo. Agora, por que aguardar que o homenageado deixe a vida? A verdade é que, quando abrimos o nosso coração a alguém em vida, nos tornamos vulneráveis, pois, se aquele que recebe os votos de louvores ainda não encerrou sua história, muita coisa pode acontecer, muita bobagem ele pode fazer e, por tabela, todo aquele tributo poderá ser manchado, inclusive quem o fez. Agora, se a pessoa já é falecida, então basta uma narrativa condizente com a intenção da homenagem. O Maradona viciado, polêmico, sempre metido em confusões, esse é riscado e permanece apenas o astro, o craque. Contudo, se vivo, nunca se sabe o que ele poderia causar, falar ou revelar no dia seguinte.
Em homenagens póstumas, não se reconhece o ser humano, o indivíduo real, a locomotiva que puxa em um vagão suas virtudes, mas, no outro, suas falhas, mas a personagem, aquela figura construída no imaginário. Homenagear os vivos é um ato de grandeza e de responsabilidade, mas esperar pela morte do merecedor do tributo se mostra, na maioria das vezes, uma tentativa de regar com lágrimas de saudade alheias a flor de uma popularidade que se busca alcançar.
* Imagem: https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-italiano/noticia/prefeito-diz-que-estadio-do-napoli-passara-a-ser-chamado-de-diego-armando-maradona.ghtml
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