O que nos espera nos próximos minutos, nos próximos segundos ou enquanto essas palavras são escritas ou lidas? Sem percebermos, pensamos o tempo todo sobre o depois, mas costumamos ignorar o único depois que certamente nos espera: a morte.
Você pensa sobre a morte? Não? Pois deveria. É claro que não me refiro a buscar a morte, é evidente, mas de saber que ela vai nos alcançar. E apesar de toda certeza que envolve a chegada desse momento, nada é mais incerto de como ele será. A verdade é que a limitação de nossa natureza nos apresenta apenas duas estações para aguardá-lo: a do desespero e a da esperança.
O desespero envolve a aflição pela ausência de uma certeza, ou a crença de que a vida se resume a simplesmente uma queda em um abismo rumo a um fim definitivo, um solo duro que esmigalhará cada osso, cada órgão, e impossível de ser atravessado. Viveríamos pelo quê? Pela mera propagação da espécie e da natureza? Mas para quê? Por quê? Nada faz sentido. Ainda que a aceitação do fim definitivo possa não envolver reflexões sobre o depois, nos perturba quanto às razões para o antes e o agora.
Por outro lado, a esperança. Ao contrário da ilusão, a esperança é calcada em elementos que a sustentem, e o fundamento para a esperança relativa à morte é apenas um: a fé, “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus, 11:1). Como assim, “a prova das coisas que não se veem”? Sim, isso mesmo. Isso é fé. Tem a ver com prova, e, sob a perspectiva cristã (histórica, documental e racional, é importante dizer), não há prova maior do que ressurreição de Cristo, uma prova testemunhada por muitos que viveram dizendo isso e por isso foram mortos, negando-se a declarar o contrário.
As últimas três semanas têm sido muito difíceis para a minha família. Em 21 dias, faleceram dois tios muito próximos da minha esposa, Paulinho e Alberto, e ela, minha sogra (que deles era irmã) e toda a família estão despedaçados. A partida dói demais, ainda mais quando as pessoas, além de íntimas, eram tão especiais e significativas. Porém, o que nos resta? O desespero? É evidente que não. O choro nos consome, a ferida da separação é profunda, mas, mesmo em meio a esse “vale da sombra da morte” (Salmo 23:4), a fé nos permite erguer um castelo de esperança cujas torres são tão elevadas que tocam as nuvens e, de suas janelas, conseguimos enxergar o tempo em que toda lágrima será enxugada e “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor” (Apocalipse 21:4).
Vivamos o luto, bebamos a água salgada de nossas lágrimas, mas não podemos deixar cair a vara e o cajado de Deus que nos consolam (Salmo 23:4). Agarremo-nos à esperança firmada na fé, e não nos entreguemos ao desespero, pois Jesus, esse mesmo cujo aniversário comemoraremos em alguns dias, nos prometeu que, aquele que nele crer, “ainda que morra, viverá” (João 11:25).
*Imagem: https://www.dw.com/pt-br/qual-a-diferen%C3%A7a-entre-l%C3%A1grimas-de-alegria-e-de-tristeza/a-19393856
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