Encerrei minha última crônica perguntando o que fazer com David Coimbra e Kelly Matos após o infeliz episódio ocorrido durante a transmissão do programa Timeline, veiculado pela Rádio Gaúcha, emissora do grupo RBS, em que celebraram ironicamente a criminalidade em Criciúma (SC). Muitos querem sua demissão. Seria esse o caminho correto?
Robespierre foi o principal líder da fase do Terror da Revolução Francesa, aquele que mais se regozijava em mandar seus adversários para a guilhotina. Em nome da liberdade, eliminou-se toda liberdade e cabeças rolaram aos montes. Claro que uma delas acabou sendo a do próprio Robespierre, acusado e julgado com o mesmo radicalismo que adotara com suas vítimas.
O “cancelamento” é a guilhotina da atualidade, aplicada furiosamente por internautas no mundo virtual. Assim, pessoas perdem empregos e têm sua reputação manchada. No caso do Timeline, o programa perdeu quase todos os seus patrocinadores, Kelly Matos e Coimbra foram atacados como nunca, seus nomes ficaram marcados no Google como “apologistas do crime”, o áudio com os comentários infelizes acompanhados por risadas de hiena estão eternizados na internet, os jornalistas escreveram e se retrataram, pediram perdão. É preciso sua demissão? É evidente que não.
A demissão sumária dos profissionais representaria um golpe na liberdade de expressão. E golpear a liberdade de expressão é golpear toda liberdade de expressão, e não só a de quem pensa diferente da gente. Afinal, se hoje há um lado com o poder de extirpar aquele cuja visão afronta a nossa, amanhã será o contrário. Ao cabo, não mais haverá a liberdade de se discordar. Opiniões têm consequências? Claro que sim, mas elas devem ser legítimas e naturais, e não um movimento de turba, de linchamento.
Ao ver Jesus sendo preso por guardas romanos, Pedro sacou uma espada e decepou a orelha de um deles. Cristo, então, enquanto a curava, disse ao seu discípulo: “Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”(Mateus 26:52). Pedro largou a arma e se tornou a pedra sobre a qual se ergueu o cristianismo (Mateus 16:18). Suas palavras se tornaram mais afiadas que qualquer espada de dois gumes (Hebreus 4:12).
Não sejamos Robespierres, mas inspiremo-nos em Jesus. Para que prevaleçam a verdade e a justiça, usemos, em alto e bom som, as palavras e a honestidade. O injusto, o ímpio, a farsa, tudo será desmascarado, e o preço, cobrado ao natural. Porém, a fim de mantermos viva a nossa liberdade, precisamos zelar pela liberdade alheia, afinal, “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
Cristo curando a orelha de Malco, de Louis Finson (c.1580–1617)
*Imagem 1: https://ocaisdamemoria.com/2018/07/28/robespierre-e-executado-na-guilhotina/
** Imagem 2: https://br.pinterest.com/pin/489977634455683331/
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